Manifesto Antimaternalista, Vera Iaconelli
- fernandamschmid
- 8 de jul.
- 2 min de leitura

Como a maternidade impacta a identidade profissional das mulheres?
Essa é uma das perguntas centrais da minha tese de mestrado — e recentemente me levou à leitura de Manifesto Antimaternalista, da psicanalista Vera Iaconelli.
O livro provoca ao afirmar que o que chamamos de “instinto materno” é, em grande parte, uma construção social — um discurso que naturaliza a ideia de que cuidar é um destino exclusivamente feminino, isolando a mulher e limitando sua atuação profissional.
Concordo que o cuidado, embora muitas vezes invisível, é trabalho. E que a sobrecarga materna não é uma questão individual, mas estrutural, com impacto direto na equidade de gênero e na retenção de talentos no mercado de trabalho.
Também concordo que precisamos avançar em políticas que valorizem o cuidado como responsabilidade coletiva: parentalidade ativa, redes de apoio, flexibilidade real.
Mas não acredito que possamos reduzir a maternidade a uma construção social, como a autora propõe. A maternidade envolve dimensões biológicas, culturais e históricas — e quanto mais estudamos o cérebro humano, mais evidente fica a complexidade desse momento na vida (e no corpo) da mulher.
A cada entrevista que faço com mães, percebo como essa redução da maternidade a um fenômeno apenas social (ou apenas biológico) só reforça a pressão sobre elas.
As mães sentem a pressão social para serem "mães perfeitas", a responsabilidade de cuidar de um outro ser humano e ao mesmo tempo se manterem ativas e crescendo profissionalmente. Mas sentem também as mudanças no corpo, nos hormônios, no sono e nas suas prioridades.
Os pontos trazidos por Iaconelli têm um papel fundamental ao trazer à tona o papel da sociedade, do Estado e até mesmo das empresas na forma como tratamos a maternidade.
Mas terminei a leitura com a sensação de que o "antimaternalismo", embora necessário como provocação, pode adicionar ainda mais camadas à já intensa carga emocional e física da maternidade.
Recomendo a leitura para quem se interessa por questões de equidade de gênero (em especial para quem quer entender mais sobre os muitos recortes de raça e classe social e raça), mas já aviso que é uma leitura bastante densa e acadêmica!
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